"E repelir como inútil tudo o que não contribuísse para a alegria imediata do coração, porque tinha um temperamento mais sentimental que artístico, procurando emoções e não paisagens..."

determin(ação)

sexta-feira, setembro 28, 2012 10:55

Hoje é aniversário do meu pai e eu quis escrever um texto, sabe? Pra ele. Porque meu pai é um homem que me inspira muitas e muitas vezes... Só que eu não quero rasgar seda, tecer elogios ou repetir o quão incrível ele é, por mais que ele mereça ouvir sempre. Hoje eu quero compartilhar uma coisa que eu aprendi com ele porque, coincidentemente com a data ou não, acordei pensando nisso.

Ano passado eu estava atravessando uma fase caótica, dessas que todo mundo atravessa algum dia. Não estava satisfeito com o meu desempenho na faculdade, pensando em largar o estágio - a única coisa que me prendia era a necessidade de pagar os cartões de crédito -, saindo de uma droga de um relacionamento... Uma vontade de desistir e recomeçar, porque recomeçar sempre parece muito mais fácil (depois eu descobri que a oportunidade de recomeçar nasce junto com o sol de cada dia) e desistir é uma tentativa absolutista e frustrante de eliminar os problemas (mas não, ela não vai. Problemas tem que ser resolvidos, não negligenciados).

E no meio desse desespero, numa semana cansativa, em que tive todos os meus limites de paciência e otimismo postos a prova e eles foram reprovados, numa manhã em que a vontade era a de queimar o livro de Direito das Obrigações... Surge meu pai, batendo na porta do meu quarto e pedindo pra conversar... E eu e meu pai somos muito, mas muito mais parecidos do que a gente desconfia ser. A gente se parece tanto, que até demora de se meter na vida um do outro... Por uma questão de confiança. Mas quando bate na porta e pede pra conversar... A gente se lê. A gente se explica. A gente se ouve. A gente se cala, silencia pra não perder o fio da meada e não bagunçar muito a cabeça um do outro. A gente tenta se compensar.

Nessa conversa, meu pai me disse a frase da qual eu me lembro todas as vezes em que o desespero dá as caras e eu sinto vontade de jogar tudo para o alto... "Desafios vão aparecer sempre na vida de todo mundo, é difícil e você vai querer desistir... O que faz diferença é a sua determinação." Foi como um clarão. E eu sabia disso. Eu sabia do sentimento dessa frase. Mas eu precisava que alguém me dissesse, alguém de credibilidade... Alguém como o meu pai. Determinação. Característica mais pesada de se carregar...

Desafios aparecem sempre. Nós não nos enganamos.

Eu não larguei a faculdade. O estágio que me tirava do sério não é mais meu. E entrei num relacionamento saudável. Não desisti de nada, sequer recomecei... Eu transformei a minha rotina, dei continuidade aos problemas e a mim mesmo porque em algum ponto nos enfrentamos e nos entendemos, mesmo que não permaneçamos os mesmos - e nunca permanecemos - nem os problemas e nem eu.

Reinventar a vida, esse exercício diário pra se quebrar o tédio... Isso eu aprendi com o meu pai. Vale mais do que qualquer herança que ele possa me deixar algum dia, né? É um legado que eu carrego (e divido com ele) na alma. E eu me orgulho de qualquer semelhança, qualquer compatibilidade, qualquer sinal, qualquer cicatriz que eu tenha - no genótipo, no fenótipo e no espírito - com o homem fantástico, o verdadeiro equilibrista, que é o meu pai.




"Nosso chão só é tão pesado quanto a gente permite que ele seja."
(Amém.)