"E repelir como inútil tudo o que não contribuísse para a alegria imediata do coração, porque tinha um temperamento mais sentimental que artístico, procurando emoções e não paisagens..."

Sobre o rapaz e sua moto (ou só mais uma reflexão sobre a vida)

sexta-feira, setembro 21, 2012 09:28

Tava assistindo ontem a história do homem que sonhava em comprar uma moto e alguns meses depois de realizado o seu desejo - com muito trabalho, inclusive - sofreu um acidente com a mesma moto e faleceu. E aí acabou. Moto, sonho, vida. Fim. E eu me perguntei, enquanto não sabia direito se tinha tempo pra chorar antes de sair de casa... É só isso mesmo? Vale a pena tudo isso mesmo? Você trabalha para alcançar o que almeja, ao passo que precisa alcançar tudo o que é necessário, consegue e quando consegue, vem a vida e te dá uma rasteira.

Eu não sei qual é o tipo de lógica, justiça ou senso desse mundo.

Histórias como a do rapaz e a da sua moto acontecem todos os dias, em todos os lugares. Todos os dias e em todos os lugares, o que impede dela acontecer também com você? Ou comigo? Sei lá se é errado ou saudável analisar a vida pela perspectiva da morte, mas não dá pra parar, sabe? Não da pra parar de pensar. Não dá pra parar de viver. Não dá pra parar de se preocupar. De se preocupar em pagar as contas, em estudar, em cumprir com as obrigações civis (e com toda aquela parafernalha chamada sensatez)... Não dá pra parar de se sufocar. Todos os dias e em todos os lugares. E também não dá pra parar de se preocupar em almoçar junto com a família, em passar o final de semana com a namorada, em ver o filme com o ator preferido, em ir para a festa que vai acontecer na outra semana, em correr atrás do sonho, que pode ser uma moto ou um salário de cinco dígitos. Não dá.

E eu, com toda minha inexperiência sobre tudo, posso falar sobre o jeito como as coisas podem mudar e a sua análise sobre toda essa experiência terrena também. Já sofri um acidente e sempre reitero, numa tarde linda de terça feira, quando tinha acabado de almoçar com um dos meus grandes amigos. Reitero só pra dizer que não dá pra prever essas coisas. Não dá pra antecipar as rasteiras que a vida pode dar. Consulte os astros, a cartomante, a bíblia, uma bola de cristal. Simplesmente não dá pra antecipar. Minha mãe não teve um sonho, nem meu pai um pressentimento, nem eu um frio na barriga quando subi na moto em que fui atropelado. Era só mais uma tarde linda de sol do mês de julho.

"É por isso que a gente precisa viver intensamente", me disse uma amiga. "É por isso que a gente tem que se cuidar", retrucou o outro que também participava da conversa. A gente tem é que se equilibrar, digo eu. Se equilibrar entre o beijo na boca e a conta pra pagar. Entre o almoço de domingo com a família e a lista de compras do mês. Entre a noitada com os amigos e a pendenga judicial a ser resolvida. Entre viver e se preocupar. Em se preocupar em viver. Porque tudo passa muito rápido. E os seus sonhos podem demorar a chegar (ou, infelizmente, apesar de toda dedicação, eles podem não chegar), mas ser feliz? Ser feliz é o que a gente precisa fazer no caminho pra tudo isso. De outro modo, eu acredito que não valha a pena... Viver.